quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Onde foi que eu errei?

por Marcelo Moraes

carinho
Está sempre por perto, não tem preço, só faz bem, é de todos e não se esgota; gente grande ou pequena pode fazer, e os animais também; quanto mais se pratica, mais ele se fortalece. É um gesto ou sentimento. Nós, humamos, o chamamos de... Carinho.
 
É algo tão simples, porém de difícil manifesto para alguns (suposição). Transmitir carinho a alguém pode ser motivo de chacota para uns, enquanto para outros a força motivadora para a vida. Povos diversos com costumes que assim o valorizam, ou que o desprezam. E nós aqui, brasileiros, vez ou outra ficamos no meio termo.

Nunca tive problema em transmitir este gesto, muito menos em recebê-lo. Claro que isso tem a ver com a criação, com a educação recebida na família, afinal, grande parte dela aprendemos na infância. Então, quanto a isso, não posso reclamar, pois carinho não me faltou. Mas, afinal, carinho é um gesto único como o abraço? Não, pelo menos não que eu saiba, pois podemos demonstrá-lo em diversas situações: um abraço propriamente dito, um beijo, uma carta, um presente, uma ligação, uma visita, uma tarde junto com alguém, um aperto de mão, um olhar, um sorriso...

Um gesto genérico, poderia dizer, não é? Mas sempre depende da situação e da proximidade entre as pessoas, ou entre pessoas e animais, ou entre pessoas e plantas, ou entre pessoas e coisas (carinho pelo trabalho, pela sua casa, pela refeição preparada...).
 
Hoje em dia tornou-se mais prático para nós, simplesmente passarmos um e-mail dizendo um "oi" ou perguntando por notícias; deixar um recado nos sites de relacionamento com um "passando pra dizer um oi, ou um beijo"; bater um longo ou curto papo pelo messenger; os torpedos.  Aos que se entregaram a estas ferramentas tecnológicas, dificilmente vai dizer que está sempre ligando ou visitando seus contatos que sempre deixam recados on-line. Isso até pode acontecer, mas dentre tantos conhecidos, poucos serão os felizardos de terem o "ar da nossa graça" ao vivo!
 
Ainda ouvimos dos que são resistentes à tecnologia, dizer, que isso não tem nada de humano as pessoas se falando sem se ver, se ouvir... E elas não estão totalmente erradas. Se fizermos uma exceção aos contatos distantes que temos e que conquistamos frequentemente pela web, aqueles que estão próximos de nós (isso inclui parentes e amigos), por que tornou-se tão distante este contato humano? O trabalho nos ocupa muito tempo, sim, mas não trabalhamos o tempo todo! Não dormimos o tempo todo! Não ficamos na net o tempo todo (opa, aí eu me engano, né?)! Acabamos substituindo hábitos mais humanos para hábitos mais mecânicos, padronizados, com palavras de sentimentos coletivos.

Pensando nisso, já faz um bom tempo que procuro evitar de enviar e-mails assim, aqueles que são encaminhados com palavras "bonitas, imperdíveis e com uma lista de e-mails gigantesca que receberam a MESMA atenção que eu", pois para mim, mesmo que o contato seja de certa forma mecânico, deve ser pessoal. Procuro, então, escrever diretamente à pessoa, com as palavras que EU quero dizer a ela e não a todos, afinal, cada um é único naquilo que nos representa. E da mesma forma, procuro me encontrar ou me comunicar o mais "offline" possível com meus contatos, ops, com meus amigos e parentes. Poder ver os olhares, dar aquele abraço, sorrir, falar, ouvir...momentos que nos custam a acontecer mas que valem muito serem vividos (mesmo se for por alguns minutos ou algumas horas). Como eu disse, eu só evito, mas não me proibo "de", pois certas mensagens, dosadamente recebidas, não atrapalham nosso contato humano.
 
Recentemente passou no Fantástico, uma matéria sobre assaltos em lojas, onde os assaltantes, geralmente menores, portavam armas e agrediam as pessoas do local após o assalto. E quando digo agrediram, é no peso real da palavra. As cenas não me deixam enganar.


Diante de todas estas cenas, a que mais me chamou a atenção (e acredito que a todos que sofreram a violência), foi a do pai "assumindo que 'acha' que errou" na educação do filho e, em seguida, pede "perdão às vítimas pelo que o filho fez". Desculpa, "pai", o senhor quis dizer que seu filho agride pessoaS e, depois, é só pedir "perdão"? Quando ele mata o senhor pede também? É só uma dúvida que eu tenho...

Uma boa parte da matéria é "conversa pra boi dormir", pois repete as mesmas falas de que o jovem é isso, que o jovem é aquilo, que estava drogado e bla-bla-bla... Quando se fala em agressão não tem que ficar fazendo "onda" não, a pessoa cometeu o ato, agora resta dar a devida PUNIÇÃO. O que mais vai adiantar ficar só falando de possibilidades de ela estar drogada ou não? Talvez deixe a matéria esteticamente "completa", é isso (ahan...)!

Existem várias maneiras de se criar um filho (ou dois, ou três, ou quatro...). Cada pai pode justificar como:
- eu já coloquei ele no mundo, agora o mundo que se encarregue de cuidar dele;
- eu não queria que ele nascesse agora, não contava em ser pai (ou mãe) tão cedo;
- eu não tenho tempo para dar atenção a ele(s);
- não adianta eu falar, ele(a) não me obedece;
- você quer que eu faça o que, se ele é assim?;
- eu já trabalho o dia inteiro e ainda quer que eu dê atenção a ele?
- meu filho tem de tudo, não falta nada pra ele...
- onde foi que eu errei?
 
Com certeza deve haver muitas outras justificativas de pais "relapsos" (não sei se é bem este o termo), mas independente da vida que levam, dar carinho vai além de qualquer uma destas dificuldades (ou obstáculos) que enfrentam. Os animais, dos mais selvagens aos mais domesticados, praticam o carinho com a sua prole (ou semelhante) sem qualquer manual de instrução que lhe ensine o que fazer. Enquanto isso, muitos humanos continuam achando que colocar um filho na escola já está dando "educação" a ele. Então, carinho tem preço? Não vem mais de berço, vem da escola?  Preciso me atualizar, então, vou procurar urgente um curso de especialização em carinho. Talvez aquele pai da reportagem não teve um professor BEM CAPACITADO para ensinar carinho ao seu filho... E eu, então, sem curso (olha o perigo!) não estou ensinando carinho aos meus alunos! #medo #vergonha
Só espero que este pai, possa, de alguma maneira, aprender com o ato do filho, a sentir um pouco mais as dores dos outros que sofreram (e talvez continuarão sofrendo) e ver que, no fundo, o que mais faltou ali foi uma boa e constante dose de carinho, mas..., se ele pediu (e não o filho) "perdão" aos outros, com certeza ele recebeu uma dose, mesmo que mínima e de singela educação, deste gesto nobre e fundamental que é de todos em algum momento da sua vida. E por que, então, não passou isso adiante? Mais uma dúvida que tenho...
Sei que apenas dar carinho a alguém não CURA, nem resolve os problemas do mundo (coisa óbvia e lógica), mas não preciso de dados estatísticos nem clínicos para saber que, pelo menos, ele impede ou contribui e muito para que este mal não se dissemine...
Agora, para terminar meu "fantástico mundo de Bob" ou de "Lucas Silva e Silva", tenho mais uma dúvida: Será que faltou carinho para esta CRIATURA também? Clique no link e desvende este mistério para mim...Agradeço desde já a intenção. Obrigado.
 

6 comentários:

  1. Oieee!
    Isso é mesmo verdade! ainda bem que tem os seguidores para nos ajudar a acompanhar todos esses amigos tão queridos que fizemos essa semana. Você com certeza é um deles!

    Que lindo post! adorei, você falou com o coração, botou a boca no trombone, deu o recado, mas falou com a alma de coisas tão delicadas como é esse assunto.
    É tão difícil dar uma opinião em um caso desses, eu acredito que tem sim culpa dos pais ou responsáveis, mas não só no sentido de não ter dado algo, mas no sentido de não ter tido a sensibilidade de ver as reais necessidades do filho. Em casa por exemplo, somos em 3 irmãos, e meu pai pecou em alguns momentos querendo criar os 3 iguais. Ás vezes uma chamada de atenção (gritando por exemplo) para um filho faz com que ele endireite e para outro cria raiva e queira revidar e é preciso observar a forma de "falar" e educar cada pessoa. Será que divaguei demais? rs
    Beijos

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  2. Cristiane, este assunto é complexo e delicado, por isso, só o tomei como exemplo para mostrar que os nossos gestos, mesmo simples, mas frequentes, podem contribuir com a educação de um filho. E este exemplo que deu é fato: os pais tendem a querer dar a educação coletiva a todos os filhos, não levando em consideração a individualidade de cada um (DEPOIS COBRAM ISSO DOS PROFESSORES, QUE NÃO SÃO OS SEUS PAIS). Eu sou um filho também, de três, entendi (e me vi) perfeitamente neste exemplo. Por isso, talvez, acabamos, muitas vezes, tendendo a enviar e-mails coletivos a todos. Herdamos dos pais, será?

    No caso do pai da matéria, temos outros fatores a considerar também, SEM DÚVIDAS (isso inclui a própria educação, condição social, estado emocional etc), mas o meu assunto de "pauta" não deixa de ser o menor deles.

    Não divagou não, pelo contrário, só contribuiu.
    Bj

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  3. Mto bonito o post, cara! Um desabafo que a gente já nem vê por aí, tamanho o desgosto que a humanidade tem causado... à própria humanidade. 'Carinho' já está tão em desuso, que praticamente só existe como verbete de dicionário.

    Sorte a minha, ter pais carinhosos que me ensinaram tudo! Em especial, a amar e dar carinho à quem precisa ou não.

    Abraços o/

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  4. Oii... que vergonha... pelo jeito voce foi o unico a ver o post que fiz ontem, completamente bebada... rsrsrs Bom, eu excluí, mas queria agradecer o CARINHO de você ter deixado um comentario me desejando força.
    Eu acho que falta muito carinho no mundo, e acho também que essa falta seja a responsável por tanta violencia no mundo. Penso que é assim: As pessoas assaltam porque se drogam, ou precisam de dinheiro, ou blá, blá, blá. Porém, é muito difícil olhar para um ser humano COMO SER HUMANO se durante toda a sua vida você não teve muito contato físico, não teve amor de outro humano.
    A falta de carinho traz frieza nas pessoas, e a frieza leva a violência. Bom, mas esse é o meu ponto de vista.
    Quanto ao carinho virtual, eu acho super válido. Não importa que a gente não se conheça, que a gente nunca tenha se visto. Ontem, por exemplo, seu comentário me deixou feliz. Vi que tenho amigos que nem conheço mas que se importam comigo. Ou seja, a DEMONSTRAÇÃO de carinho é virtual, mas o carinho, em si, é real.
    É isso!!
    Beijos!!

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  5. Marcelo,
    Sabe, gosto muito da palavra SUBSTRATO. Penso que quando o substrato é o amor e o carinho fica difícil desvirtuar-se tanto de caminho ético e humano. Quem recebe amor- e limite- dá amor. Vejo pessoas que violentam a si próprias e aos outros não dando o menor valor ou importância a vida.Sem dúvida nenhuma não sabem o que é nada disso.
    Tenho uma amiga, muito amiga que é orfã de mãe.Agora de pai tb. O pai ,alcóolatra, casou de novo e nem aí para a filha que foi criada por uma tia materna. Aos 14 anos era problemática, vestia-se totalmente de preto, pintava as unhas das cores mais estranhas possíveis.Era "punk", cabelo colorido e comportamento de acordo. Como todo mundo falava do "problema" que a tia tinha eu passei, não sei porque, a sentir uma enorme simpatia por ela que era arisca. Não sei, ficamos muito amigas. O tempo amadurece as pessoas e uma vez ela me contou muito tempo depois que fazia tudo o que era possível para chamar a atenção da tia. Que queria que a tia brigasse com ela , pusesse de castigo, dissesse que o que andava fazendo era um absurdo. Ao contrário, para não chateá-la a tia( que é um doce de pessoa) comprava esmaltes- só uma ilustração- os mais esquisitos que encontrava para deixá-la mais feliz. O oposto do que ela queria e precisava. Amor e limite. Limite também é amor. Se a tia brigasse estaria provando que a amava.Meio complicado, pois no caso, a tia achava que a menina já havia sofrido demais e tentava compensá-la daquela forma. Não dando limites . Prá menina ficou um gosto de tanto faz..Hoje em dia costuma dizer que a tia "Maria" é a melhor tia do mundo mas que nunca foi uma mãe.
    "Deixa o menino"... No caso que vc citou...Dá menos trabalho não brigar.
    Não se demonstra amor,pelo menos não o suficiente, não se educa, não se ensina valores éticos ou morais. Dá no que deu aí.Não tenho tempo para cuidar e por aí vai.
    Q vida, hein?
    Quanto ao GOLPE, não consigo entender tb não. Já tentei. E tentei. Prefiro acreditar na moça até provem mesmo o contrário.É loucura demais!
    De igual maneira eu quis tanto e tanto acreditar nos pais da menina Isabela.
    Não consigo até hj me conformar. Mil vezes a justiça ter errado do que um pai ser capaz daquele horror.
    Ah, só prá terminar, aquela menina cresceu e foi a única a ajudar o pai no fim da vida, mesmo cheia de mágoas. Hoje tem um filho de quatro anos e ao contrário do modo como foi educada a criança não pode nem se mexer que fica de castigo ou leva um grito. Prá ela brigar é amor. Como vai repercutir isso no filho só Deus e o futuro sabem!
    Beijo grande

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  6. Olá Marcelo!

    Obrigada pela resposta.
    Essa cobrança dos professores que você comenta até tem desanimada alguns educadores que conheço, comentando que ás vezes acabam fazendo mais papel de pais do que realmente de educador. triste realidade!

    Bj e ótima semana

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