segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Criança diz cada coisa! #educação

por Marcelo Moraes
Cascão

Tempos modernos... Já dizia a canção, já mostrava o filme da televisão. Mas se tempos atrás os tempos eram modernos, por que, então, os tempos de hoje continuam assim? Seria um moderno mais moderno? Um novo tempo moderno? Bem, não sei ao certo mas, com estas novas gerações tecnológicas movidas a chips, dispositivos móveis, games e afins, talvez não estejamos tão longe de encontrarmos esta resposta...


Na trivial fila única das Lojas Americanas...

Mônica e o vestido para a mãe

Eu estava com apenas um item para passar pelo caixa mas a fila, única, me deixou com a única opção de aguardar... Eu olhava o relógio de minuto em minuto, mostrando que eu estava com hora marcada para um compromisso, de repente uma menina começa a mexer no balcão de cadernos, próximo a mim, e diz à mãe que precisava de um caderno novo. A mãe diz: “pra que outro caderno”? Imediatamente, a resposta estava na ponta da língua: “Pra eu colocar os meus sentimentos!” Mas e o teu diário? “Já acabou, eu preciso de outro caderno, eu sou uma pessoa “sentimentalista”, eu preciso colocar as minhas emoções pra fora”. “Eu tenho sentimentos...Tem coisas que você não sabe que eu só coloco lá! Eu preciso de outro caderno porque tenho que colocar meus sentimentos logo!”. A mãe não teve outra resposta, calou-se! Eu, surpreso, mega surpreso com a rapidez de raciocínio da menina e o argumento justo para adquirir o tal caderno, nem olhei para trás, mas segurei aquele riso de “não creio, quantos anos você tem, minha filha, você foi fantástica!” A fila, logo andou. Mas o interrogatório - mais distante - voltou a rolar quando eu estava no caixa. Não duvido que a menina tenha saído de lá com o futuro diário de sentimentos.

Num certo dia no trabalho...

Fato 1

Robin menino prodígioJá na escola, com os pequenos (como chamo os alunos do Fundamental I), era dia de uma palestra aos pais e eu ajudava na montagem do telão e Datashow quando me chega um pequeno e começa: “Marcelo (alguns me chamam pelo nome, acho correto ao invés do “tio”), eu já sei o que você tá pensando: “Esta palestra vai ser um saco, eu vou ter que ficar olhando e fazendo cara de que está muito legal...” Ele, com um jeito de menino prodígio, falava num tom tão “jeitoso”, que eu, no lugar de palavras, apenas ria, pois este tipo de atitude se imagina que aconteça com adolescentes e adultos, e lá estava um pequeno de 7 anos de idade! E ele não parou, mesmo eu negando, o desafiei perguntando-lhe o que eu pensava naquele momento (já que ele me dissera que lia os meus pensamentos), e ele errou, pois eu dizia estar com fome. Aí ele continuou: “Vai, eu sei que você não vai dizer que isso vai ser chato porque você não pode...” Sinceramente, caí no riso novamente porque com aquele guri não tinha mais argumentos, ele é fan-tás-ti-co!


Fato 2

Turma da Mônica BanhoUma pequena, durante a aula. Costumo andar boa parte da aula pela sala para acompanhar as atividades dos alunos. De repente, duas alunas cochichando... Tempos depois, eu fui investigar o motivo do murmurinho: “Que é que vocês estão aprontando aí, hein?” “Agora eu quero saber!!!”(em tom de brincadeira). “Ah, tio... É meio constrangedor (risos)... esquece, vai...” “Constrangedor? Uai, como assim?” “Tá, vem aqui(pra falar no ouvido): É que você tá TÃÃÃO cheiroso!!!!!” “Ah, mas isso não é constrangedor, é um elogio, isso é bom! Já pensou se fosse o contrário (fedido)?” E mais risadas no ar rsss.


Fato 3

Professor TiburcioOutra escola, outra turma: “Ah, professor, o senhor não vai mais dar aula pra gente?” “Não, minha carga horária na outra escola aumentou e tive que diminuir aqui.” Fazendo cara de pena mas com um singelo sorriso, diz: “Ah, mas sinto Taaaaaaaaanta falta desta sua calma... todo tranquilo com a gente, nunca se estressa...” Depois de ter-me feito rir (porque a minha calma nem é tão constante assim), respondi: “Mas com o tempo a gente se acostuma com as mudanças, faz parte da vida, né?” E ganhei um abraço e a “cobrança” do “Dá um jeito de voltar, vai?” rss, vindo de uma aluna do Ensino Fundamental II.

(...)

As BatutinhasAgora, voltando ao mundo kids, com duas pequenas na informática: uma deixou a colega no computador e veio conversar comigo um pouco. Enquanto eu prosseguia com um assunto de pauta (os pequenos também têm assunto de pauta rss), me vem a coleguinha tirar satisfação com ela: “Ela desligou o computador!” “Eu disse: não, só mexer no mouse que tá ligado.” Nem olhou pra mim, focou na colega e, num tom mais ríspido e direto, disse apontando o dedinho para ela: “Eu falei pra você que eu ia jogar, não era pra você desligar, eu falei que era a minha vez!” Fiz a cara de espanto e, dentro de mim falei um “Ui!”. E a outra ficou fazendo cara de vítima rsss Aí tive que acalmar os neurônios da estressadinha (carinhosamente falando) e logo ela foi ligar o computador. Mas, como o diálogo para elas foi sério, eu mordia a língua para não rir, pois é algo tão adulto de se ouvir que aquilo espanta ao mesmo tempo que diverte. Ainda mais quando elas estão no Jardim 2!


Fato final

MJ

Com a moda póstuma do Michael Jackson, uma turma de 2º ano pede para ver clipes do “Maicol”. Algumas arriscam a falar o nome das músicas, mas na complexidade da pronúncia, apontam para a tela o que o visual já é conhecido: “Clica neste, tio!” “Marcelo, é aquele lá ó!”. Ok, começa o clipe da música “Thriller”: Com toda aquela encenação inicial, um aluno já começa: “Tio, tio, é aí que ele vai morrer?” “Tio, é depois (da cena) que ele morre?” Mas um olhar de expectativa, de surpresa, de curiosidade, de interrogação. Aí, sempre temos um grand finale: um colega, super antenado e bem informado (antes dos clipes fiz uns comentários sobre o Michael, dos anos de carreira, do sucesso e bla bla bla... Pra verem que ele passou pelas mudanças faciais, por isso diferente nos últimos clipes), responde alto, para ele e para a classe: “Nããão, é só um clipe, você não tá vendo? Ele não vai morrer, é só um clipe, não tá vendo que ele tá novo aí?” “Ele tá novo, ele tá novo!” E o esforço dele em fazer o colega acreditar que aquilo era ficção foi tamanho, pois o que ele tinha em mente era o que veio de casa e da mídia e, para ele, a morte ocorreu na frente de todos, misturando ficção com realidade.


E o que dizer disso tudo?


Quanto mais se questiona a educação do brasileiro, mais temos provas de que educação há, mas o pouco uso ou o destino que é dado a ela acaba nos levando a este mau conhecimento da capacidade das nossas crianças. Elas precisam dos adultos, elas precisam dos professores. Mas antes deles, elas precisam dos pais. É esta a educação de berço que eles precisam como base para prosseguirem. Ao conviver com alunos de várias etapas de vida isso é nítido. Eles carecem, uns, de carinho e atenção dos pais; outros, de se conhecer limites, do sim e do não, do certo e do errado, do pode e do não pode. Eles precisam saber que têm pais, que eles são os seus pais. Muitos acabam espelhando o mau comportamento deles e reproduzem estas atitudes frias e “agressivas”, que aos nossos olhos tornam-se engraçadas por serem pequenos, mas sabemos que ao crescerem, alimentarão um pouco destes atos. Elas podem nos surpreender, como nos casos acima, mas também nos alarmam, pois o índice de alunos que se preocupam em “cuidar da vida do colega” é tamanha, que eles já não sabem mais o que é ser indivíduo, ter seu espaço, cuidar da própria vida e não a do outro. De ter PACIÊNCIA! De saber ESPERAR, AGUARDAR! Ao serem questionados sobre isso, muitos dizem que os pais falam para fazerem tal coisa se fulano disser isso ou fizer aquilo. “Ok, na tua casa os teus pais admitem, aqui, no meu trabalho, não! Aqui é local de respeito e o que você faz de errado com o seu colega, desrespeita a mim, aos colegas e ao meu local de trabalho! É isso o que eu venho ensinar pra vocês: a brigar, a fofocar?” Em couro, repondem: “Nããããããão... É pra nóis aprendê liçããão...”

Sei que falar de educação é um assunto que não se esgota e que o pouco que se diz parece o mais do mesmo - o que a meu ver não é - pois a cada dia vejo o quanto há pais menos capacitados para tal função, achando que ter um filho hoje em dia é mais fácil, pois é só deixar na escola e depois com a internet ou vídeo game. As relações de afetividade, de companhia, de troca ficam em outros planos menores. É a política do mínimo esforço. Eu, que nem filho tenho, acabo “preenchendo” a lacuna por alguns deixada, tamanha a carência destes alunos com a companhia de um adulto chamado pai, chamado mãe. Raríssimo ouvir algum dizer que o pai fez programas de final de semana com eles no lugar de “ganhei isso, meu pai vai me dar aquilo, minha mãe vai comprar um tablet pra mim”... Parece que a história um pouco se inverteu: a casa dos pais virou local de fantasia (onde tudo pode) e a escola, de realidade (fantasiar nem sempre pode). Seriam estes os Tempos Modernos?

“Tio, ele falou que não é mais meu amigo! (choro)”...

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